Jornalista, escritor, compositor, produtor musical, roteirista, Nelson Motta falou para um auditório lotado e ansioso pelas suas ideias, na palestra sobre Música brasileira na atualidade: o futuro da indústria fonográfica com o advento das novas tecnologias e meios de comunicação. Motta falou para uma plateia interessada, na conferência Porto Musical.
Do Diário de Pernambuco
A fala de Nelson centrou-se na transformação da sua vida e da vida de milhões de pessoas provocada pelos novos padrões de produção, consumo e difusão musical. Não foi um discurso realmente inovador, não fosse pela postura realista que ele ofereceu à plateia, formada, sobretudo por produtores e músicos que se auto-produzem. "Hoje os músicos estão concorrendo com outros músicos, do mundo inteiro. O músico, quando diz pra mim que faz MPB, eu digo que ele é corajoso, pois fazer MPB depois de tudo que foi feito? Se não for para fazer melhor, é melhor não fazer", declarou Motta.
Segundo ele, enquanto a canção foi o grande formato musical do século 20 - de Cole Porter a Chico Buarque - no século 21, as invençãoões mais bacanas foram o hip hop e a eletrônica. "O hip hop possibilitou num grande aprofundamento, com as batidas, combinações de loops e samples. Um gênero que valorizou como nenhum outro a palavra. O cara não precisava saber cantar. Só precisava ter um domínio dela. Na outra mão, a eletrônica valoriza como nunca os timbres, as orquestrações, a harmonia, o ritmo. A tarja eletrônica se misturou como vodka a tudo quanto foi gênero: bossa, samba, funk", coloca.
O tempo todo Motta não esquece de comparar seu tempo aos dias de hoje. A quando seu estúdio de quatro canais, onde gravou Elis Regina, estava muito longe do seu laptop onde cabe o mundo inteiro. Lembrou que o programa mais utilizado hoje de gravação musical, o Pro Tools, está nos estúdios de Nova York e também no da favela da Rocinha (RJ). E não esqueceu de revelar o lado doente da democracia digital. "Quando mais tecnologia eu vejo mais eu acredito no talento". Ao responder as perguntas da plateia sobre o que ele acha que irá "ficar", desta época, ele pisou ainda mais fundo: "para ser generoso, eu acho que a música popular, 90% dela, é uma porcaria feita para jogar no lixo. Mas é preciso o lixo para termos as flores, os 10% que se integram à trilha sonora da cultura do país".
Em entrevista ao Diario, após a palestra, Nelson Motta esclareceu que não acha que a música brasileira esteja piorando, mas é que, em virtude de tanta produção, é mais difícil achar coisas boas. Questionado sobre os figurões da MPB, que não precisam disseminar música na internet, pois fazem parte do esquema das gravadoras e da grande mídia, Nelson também foi radical: "Essa história de pop star é uma das maiores palhaçadas da nossa época. Às vezes fico com vergonha das pessoas, de como o cara pode se prestar a um papel desses". Segundo ele, há um número ascendente de pessoas que não estão interessadas em ser pop star. "Não estão pensando no Faustão, mas querem mostrar sua música na Europa, nos Estados Unidos, na Austrália, é um mundo muito melhor, pode acreditar".
Claro, isso se não forem tão boas quanto seus velhos e bons ídolos: João Gilberto, Caetano, Chico Buarque até os mais novos, como Marina de La Riva. Nelson Motta, apesar de exigente quanto à qualidade da música contemporânea, sobretudo a que se reveste das facilidades tecnológicas, diz que ajuda muito os artistas iniciantes. Pelo menos um por dia é tocada no seu programa de rádio diário, o Sintonia fina, que no Recife pode ser sintonizado apenas pela internet: sintoniafina.com. "Meu compromisso é esse. Ouço de 30 a 40 músicas por dia. De cada dez, tiro uma. Aí falo do compositor, faço um comentário. O melhor que posso fazer pela música nova é isso".
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